sábado, outubro 08, 2011

CRÔNICAS ETOS




" Perdi o mundo inteiro, perdi a mim "


_ Oi... olá! o que você esta falando ?


_ O que! é Goethe, ele escreveu esta frase, após Ulrike, uma beldade de 19 anos, recusar suas propostas de casamento. Aos 71 anos ele estava perdidamente apaixonado.


Mas, já que se intrometeu, quem é você ?


_ Pode me chamar de Etos, já me conhece, sou sua natureza emocional, sua disposição interior, lembra-se quando jogava xadrez só, na realidade era comigo o embate. Agora vamos ter oportunidades de ampliarmos esta camaradagem. Bem... mas continue, você estava falando sobre paixão.


Pois é, Freud definiu a paixão como " supervalorização do objeto ". Quando nos apaixonamos por alguém, na verdade não estamos olhando aquela pessoa; só ficamos cativados pelo nosso próprio reflexo, projetamos um sonho de completude em alguém. Neste estado, concluimos coisas espetaculares sobre nosso amante, que podem ser ou não verdadeiras, afinal a Vênus de um é a loira burra do outro.


_ Opa! o que você tem contra as loiras ?


_ Ora...nada, é só uma frase, é só uma maneira de dizer que, a realidade sai do palco assim que a paixão entra em cena, fazemos coisas malucas.


_ Hum... interessante, sabe, to pensando, acho que vou te chamar de " EU " posso?


_ Isso não é nome, é um pronome pessoal da primeira pessoa.


_ Esqueça essa coisa de gramática, o nome " EU " é a personalidade de quem fala, é perfeito, assim posso me sentir mais íntimo na nossa amizade.


_ Meu caro" Etos", você é bem estranho.


_ Meu caro "EU", você também o é, só finjo não entender. Portanto vamos deixar este estado de loucura narcísico.


_ Tá, parei na loira, e faz tempo, não que falte morena, penso que esta questão é relativa, mas no momento a loira leva com ela, dentro dela, a completude, a minha completude.


_ Eu...Eu... ela sabe, acho que não, geralmente elas nunca sabem, elas não entendem. E tem fatores conflitantes para a entrega desta mensagem. Por sermos tão complexos em termos emocionais, passamos por duas puberdades na vida. A primeira é quando o nosso corpo se torna maduro para o sexo; e a segunda é quando a nossa mente se torna madura para o sexo. Os dois fatos podem estar separados por muitos e muitos anos e a maturidade emocional só venha com a experiência e as lições da vida.


_ Etos, já que a paixão é um vício com efeito químico mensurável sobre o cérebro, alimento a fantasia sobre a pessoa amada.


Quando ela ataca, a paixão leva ao pensamento evasivo, a gente não se concentra em nada, emprego, relacionamento, responsabilidades, amizades...tudo pela união com o outro, voltamos a completar a nossa forma original e nunca mais sentiríamos solidão pela não completude.


Essa é a fantasia singular da intimidade humana; Um mais um, de certa forma, algum dia, será igual a Um.


( continua )

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