terça-feira, outubro 18, 2011

CRÔNICAS PUDENTES


Quem somos?
Somos desejo em movimento.
Desejo é a qualidade da natureza humana. É o que nos move e nos motiva.
Constantemente procurando nos preencher.
São os desejos próprios de cada pessoa que lhe dão sua indentidade individual. ( Rav Ashag ); afirma que três tipos de desejo são encontrados em todos os membros da raça humana, estão combinados em cada indivíduo em diferentes graus, e aí reside a diferença entre uma pessoa e outra.
O desejo humano no NÍVEL UM , tem sua raiz nos impulsos mais primitivos. O desejo de comer e de dormir assim como a ânsia por sexo ( e não por amor ) são desejos do nível um. Pessoas nesse nível podem fazer uso do pensamento racional, intelectual, como fazem todos os seres humanos, mas o fazem apenas para atender as suas necessidades básicas.
No NÍVEL DOIS, esses desejos estão dirigidos ao tipo de satisfação que não se encontra no reino animal, como honra, poder, prestígio, fama e dominio sobre os outros. Consequentemente, pensamentos, escolhas conscientes, decisões e ações das pessoas no nível dois estão dirigidos à gratificação desses desejos ligados a STATUS.
Os desejos no NÍVEL TRÊS são movidos principalmente pelas formas de raciocínio mais elevadas e são dirigidos a gratificar aos desejos do intelecto, tais como ânsia por sabedoria, conhecimento e obtenção de respostas.
Uma vez que temos conhecimento de nossa indentidade individual, o que acontece quando o desejo feminino busca a completude no matrimonio? o que acontece? quando sua individualidade se torna conflitante com o interesse individual do cônjuge ou da instituição familiar. Muitas, em silêncio, enterram nos seus cemitérios secretos, perdas, tristezas e sonhos pessoais abandonados. Choram os seus medos, e vão em frente engolindo decepeções. Poucas conseguem visibilidade de sua indentidade individual sem o apoio e encorajamento do marido.
Quando uma sociedade é deformada e aética, quando a hipocrisia a ela ligada, e a moralidade sexual feminina significa tudo e a moralidade sexual masculina nada significa, leis pudicas tentam controlar a privacidade, a intimidade, através da doutrinação, do dogma , da intimidação, é curvar-se à lei da coverture. Frei Cherubino ainda assombra com seu MANUAL, a IDADE MÉDIA ainda é muito presente nos costumes de liberdade com grades invisiveis.
Como você gostaria de viver?
Se nada nem ninguém impedisse, que realidade você gostaria de estar vivendo hoje?
Esta vivendo com quem você gostaria de viver?
Esta fazendo o que você gostaria de fazer?
Às vezes, as pessoas têm o insight de mudar tudo na vida, mas não tem coragem, eu diria mesmo a dignidade, de pôr essa idéia em prática.
Coragem é a dignidade sob pressão. Quando a pessoa chega a uma situação limite que fere seu senso de dignidade, toma uma atitude de coragem e rompe com essa situação. Talvez você até já esteja vivendo onde quer e com quem deseja compartilhar seus dias. Talvez falte apenas fazer o que quer. Uma boa forma de descobrir seu propósito de vida é resgatar antigos sonhos.
Perca o medo, tente.
Brinde seu paladar com novos sabores, seu sonho deixara de ser fantasias.

sábado, outubro 08, 2011

CRÔNICAS ETOS




" Perdi o mundo inteiro, perdi a mim "


_ Oi... olá! o que você esta falando ?


_ O que! é Goethe, ele escreveu esta frase, após Ulrike, uma beldade de 19 anos, recusar suas propostas de casamento. Aos 71 anos ele estava perdidamente apaixonado.


Mas, já que se intrometeu, quem é você ?


_ Pode me chamar de Etos, já me conhece, sou sua natureza emocional, sua disposição interior, lembra-se quando jogava xadrez só, na realidade era comigo o embate. Agora vamos ter oportunidades de ampliarmos esta camaradagem. Bem... mas continue, você estava falando sobre paixão.


Pois é, Freud definiu a paixão como " supervalorização do objeto ". Quando nos apaixonamos por alguém, na verdade não estamos olhando aquela pessoa; só ficamos cativados pelo nosso próprio reflexo, projetamos um sonho de completude em alguém. Neste estado, concluimos coisas espetaculares sobre nosso amante, que podem ser ou não verdadeiras, afinal a Vênus de um é a loira burra do outro.


_ Opa! o que você tem contra as loiras ?


_ Ora...nada, é só uma frase, é só uma maneira de dizer que, a realidade sai do palco assim que a paixão entra em cena, fazemos coisas malucas.


_ Hum... interessante, sabe, to pensando, acho que vou te chamar de " EU " posso?


_ Isso não é nome, é um pronome pessoal da primeira pessoa.


_ Esqueça essa coisa de gramática, o nome " EU " é a personalidade de quem fala, é perfeito, assim posso me sentir mais íntimo na nossa amizade.


_ Meu caro" Etos", você é bem estranho.


_ Meu caro "EU", você também o é, só finjo não entender. Portanto vamos deixar este estado de loucura narcísico.


_ Tá, parei na loira, e faz tempo, não que falte morena, penso que esta questão é relativa, mas no momento a loira leva com ela, dentro dela, a completude, a minha completude.


_ Eu...Eu... ela sabe, acho que não, geralmente elas nunca sabem, elas não entendem. E tem fatores conflitantes para a entrega desta mensagem. Por sermos tão complexos em termos emocionais, passamos por duas puberdades na vida. A primeira é quando o nosso corpo se torna maduro para o sexo; e a segunda é quando a nossa mente se torna madura para o sexo. Os dois fatos podem estar separados por muitos e muitos anos e a maturidade emocional só venha com a experiência e as lições da vida.


_ Etos, já que a paixão é um vício com efeito químico mensurável sobre o cérebro, alimento a fantasia sobre a pessoa amada.


Quando ela ataca, a paixão leva ao pensamento evasivo, a gente não se concentra em nada, emprego, relacionamento, responsabilidades, amizades...tudo pela união com o outro, voltamos a completar a nossa forma original e nunca mais sentiríamos solidão pela não completude.


Essa é a fantasia singular da intimidade humana; Um mais um, de certa forma, algum dia, será igual a Um.


( continua )

CRÔNICAS ETOS




Em o BANQUETE, um famoso escrito sobre o desejo, Platão descreve um jantar no qual o dramaturgo Aristófanes conta uma história mítica explicando o porque temos um anseio tão profundo pela união com o outro.


Há muito tempo, conta Aristófanes, havia deuses no céu e seres humanos na terra. Os seres humanos daqueles tempos, tinham DUAS cabeças, QUATRO pernas e QUATRO braços : ou seja, a fusão perfeita de duas pessoas, unidas, inteiriça num único ser.


Éramos todos felizes, pois tínhamos o parceiro costurado no próprio tecido do nosso ser. Não tínhamos necessidades; não havia conflitos. Éramos inteiros.


Por nos tornarmos orgulhosos, deixamos de adorar os deuses e fomos punidos. O poderoso Zeus nos puniu cortando ao meio todos os seres humanos. Zeus impôs à humanidade uma dolorosa condição: a sensação constante de que não somos inteiros. Pelo resto da eternidade os seres humanos nasceriam sentindo a falta de alguma coisa, a metade perdida, que quase amamos mais do que a nós mesmos, e que essa parte que falta esta por aí, em algum lugar no universo na forma de outra pessoa. A COMPLETUDE.


Mas Aristófanes avisou que a realização desse sonho de completude pelo amor é impossivel.


A união sexual pode fazer alguém se sentir temporáriamente completo e saciado; Aristófanes conjecturou que Zeus deu aos seres humanos o dom do orgasmo por pena. Quando acreditamos ter achado a outra metade, o mais provável é que tenhamos achado alguém em busca da sua metade, alguém igualmente que acredita ter encontrado em nós a completude.


_ Eu... como você sabe? ser à loira a mensageira dos desatinos épicos dos deuses.


_ Não sei, pode ser a loira, a morena e ou...


A essência é tudo que restou do todo, estraçalhado pelas inumeras encarnações, trazendo-nos lembranças e noticias do todo.


Nesta mesma vida, já encontrei e já fui encontrado, com os fragmentos de completudes. Por mais que no final, essas experiências possam ser dolorosas, detestaria ver alguém passar a vida inteira sem saber como é metamorfosear-se eufóricamente no ser de outra pessoa.


A propósito, aqui neste contexto, a loira "burra" é uma alegoria, não tem nada a ver com QI e sim com profundidade; cofre; para guardar seus MEDOS, a praga de Zeus.


Assim continuamos de encarnações sucessivas, buscando conhecimento pleno do " EU ".